Este é um poema dedicado à última corporação estradense republicana. O alcalde e os seus concelheiros só nos pediram à povoação estradense, numa derradeira carta, duas cousas: que os lembrássemos dando-lhe o nome de Mártires da Estrada a uma rua e que incorporássemos essa carta ao livro de actas do Concelho quando fosse recuperada a normalidade democrática. A dia de hoje não lhes temos cumprida nem uma petição nem outra.
desculpas
desde aqui quero pedir-vos desculpas
a todos vós
amigos mortos passeados assassinados
por não cumprirmos hoje o vosso legado
por arrombar-vos como trastes
no faio do esquecido
tão abandonados
por não aprendermos os vossos olhos
as vossas faces as enrugas todas
da vossa pele
por não desenhar cem socos que vos adignem
os pés espidos esses que vos descalçárom
por não cozer-vos um pão que amamentasse
os fracos filhos e famintos
por não encher com os vossos nomes
todos os silêncios obrigados
por deixar crescer o ermo em hortas e veigas
sem lograr uma maceira no esterco
que vós abrolhastes
não temos escusa
mãos que tanto construirom
a vós pido que nos absolvades
por não recomeçar a pontelha
que a enchente vos arruinou
por deixar que o verme a couça
faga serraduras
das traves cumpridas que vós cinzelastes
e que nós deviamos ter telhado
com cravos rosas flores de arrecendo
desculpai
por fazer do vosso futuro
tão aginha derrubado
um novo vertedoiro incontrolado
por não fazermos nada dos cascalhos
assim estamos agora
dormindo ao relento
sem o abrigo da memória
desculpas
desde aqui quero pedir-vos desculpas
a todos vós
amigos mortos passeados assassinados
por não cumprirmos hoje o vosso legado
por arrombar-vos como trastes
no faio do esquecido
tão abandonados
por não aprendermos os vossos olhos
as vossas faces as enrugas todas
da vossa pele
por não desenhar cem socos que vos adignem
os pés espidos esses que vos descalçárom
por não cozer-vos um pão que amamentasse
os fracos filhos e famintos
por não encher com os vossos nomes
todos os silêncios obrigados
por deixar crescer o ermo em hortas e veigas
sem lograr uma maceira no esterco
que vós abrolhastes
não temos escusa
mãos que tanto construirom
a vós pido que nos absolvades
por não recomeçar a pontelha
que a enchente vos arruinou
por deixar que o verme a couça
faga serraduras
das traves cumpridas que vós cinzelastes
e que nós deviamos ter telhado
com cravos rosas flores de arrecendo
desculpai
por fazer do vosso futuro
tão aginha derrubado
um novo vertedoiro incontrolado
por não fazermos nada dos cascalhos
assim estamos agora
dormindo ao relento
sem o abrigo da memória