Ricardo Carvalho Calero
Ricardo Carvalho Calero na Estrada
A nossa Terra nom conheceu endejamais umha distribuiçom demográfica que permitisse a existéncia propriamente de grandes cidades. As cidades galegas que hoje excedem os cem mil habitantes, som cidades que fórom apenas vilas ou aldeias em tempos relativamente recentes. Aquelas capitais do nosso país que desempenhárom um papel cultural, histórico, político, económico de releváncia durante a Idade Média, durante a Idade Moderna, e os alvores da Idade Contemporánea, eram cidades ou vilas pequenas. Nem Santiago de Compostela nem as cidades episcopais de Lugo, Ourense ou Tui, reuniam um número considerável de habitantes quando eram os centros, dispersos pero concatenados, da nossa vida colectiva. E qué diremos de cidades como Ferrol ou Vigo, que som de onte, que nasceron propriamente nos alvores do século passado, ou a fins do século dezaoito, quando começou a Revoluçom Industrial, ou a transformaçom da nossa economia produziu novas fontes de riqueza? Ferrol era umha vila de marinheiros que se agrupavam ao redor da parróquia do Socorro, até que nos tempos dos primeiros Borbóns, descoberta a importáncia estratégica da baía, se converteu num centro importante de construçom naval. E Vigo, até que do pequeno recinto amuralhado saiu o Arenal, a promoçon de activos industriais adicados á transformaçom dos elementos que o mar proporcionava, era também umha pequena vila.
Falo aos vizinhos da Estrada, que é um exemplo típico desta maneira de transformar-se o nosso pais, nos seus núcleos urbanos. A Estrada é umha vila de onte também, e apenas era umha aldeia a princípios do século dezanove. A sua privilegiada situaçom itinerária, e as transformaçons que trouxo cónsigo a renovaçom dos meios de transporte, determinou que num cruze de caminhos aparecesse umha agrupaçom que foi prosperando e hoje é o formoso centro comarcal em que eu tenho agora a honra de dirigir-me a vós. Nom por primeira vez. Eu tenho falado na Estrada várias vezes, algumhas mui recuadas no tempo, porque tenho já muitos anos, e antes da guerra visitei já a Estrada como orador, como conferenciante. Neste sentido celebro muitíssimo que exista entre vós umha entidade cultural que esteja disposta a estudar as cousas da comarca, porque como dixem no começo desta conferéncia, é realmente signo de aristocrácia espiritual, é realmente signo de bom senso, de bom gosto, começar polo estudo amoroso, carinhoso, das cousas próprias, pola catalogaçom do nosso património artístico e cultural, e neste sentido colaboro co maior entusiasmo, coa melhor boa fé, de coraçom, nesta evocaçom dos escritores estradenses que cultivárom a nossa fala, e que nados ou na propria vila, que hoje é capital de município, ou em qualquer das cinqüenta parróquias que este município, um dos mais extensos que Galiza compreende, aportárom algo importante ou nom importante, mas em todo o caso produto do patriotismo e da solidariedade, á literatura do País.
Mas, se cadra hai muitas pesoas que ignoram o volume desta aportaçom. Mas na nossa terra é característico do devir histórico-cultural que pequenos núcleos de povoaçom, pequenas vilas ou, ás vezes, comarcas inteiramente rurais, dem grandes escritores ás nossas letras: Rianjo, Celanova, Pontecesso, som vilas cujos nomes vam unidos indisoluvelmente aos de figuras importantíssimas das nossas letras. E este é o caso também da comarca estradense que aportou á nossa literatura umha contribuiçon ainda nom valorada no que realmente supom, de maneira inteiramente justa polos estudosos da nossa literatura. Se cadra, teriamos que remontar-nos á Idade Média para registar as primeiras aportaçons desta terra ás letras galegas. Por suposto, entom nom existia, com este nome ou com outro qualquer, apenas era umha aldeia, um lugar que ao nom contar coa rede viária com que hoje conta o município, com que hoje conta a província, com que hoje conta o País Galego, nom podia ter a civilizaçom económica e cultural que logo cobrou. Nem sequer aparece nos antigos anais históricos da nossa terra o nome da Estrada. Nom existia, por suposto, umha distribuiçon provincial da terra galega e umha série de coutos e jurisdiçons formavam um conglomerado administrativo que proporcionava, sobre a base de comunidades municipais de terras senhoriais ou abadengas, o substrato demográfico á vida do País.
Falava-se entom de Taveirós, da Terra de Taveirós. E esta Terra de Taveirós é o nome com que aparecem designados os possíveis primeiros escritores de ascendéncia directa ou indirectamente estradense, como diríamos hoje, que deixárom um calco da literatura do ocidente hispánico. «De Taveirós» é a denominaçom com que aparecem designados nos cancioneiros galego-portugueses da Idade Média vários trovadores, especialmente dous que eram irmaos: Pai Soares e Pero Velho: Pai Soares de Taveirós, Pero Velho de Taveirós.Som membros dumha família que no momento em que aparecem ante nós á luz da história está estabelecida na orela portuguesa do Minho, na zona de Riba do Minho, da zona da confluéncia do grande rio que separa ou une Galiza com Portugal actualmente, com outros rios, com outras correntes fluviais ou paralelas ao grande patriarca dos rios galegos. Ponte de Lima é o solar conhecido destes trovadores aos que hai que agregar vários outros cujos nomes tenhem conservado os nobiliários galego-portugueses e também as rúbricas dos cancioneiros: Rodrigo Eanes Redondo, Fernam Rodrigues Redondo, com Pai Soares e com Pero Velho de Taveirós som nomes de figuras que aportam o seu contributo ao desenvolvimento daquela primavera lírica que é a poesia galego-portuguesa da Idade Média. E aparecem todos estes nomes como membros dumha só família: a familia dos Velho, família da nobreza média estabelecida em Portugal, pero por suposto nas orelas do Limia, nas orelas do Minho, que som rios galego-portugueses. E Taveirós é um topónimo que como indica dona Carolina Michaelis de Vasconcellos, na sua ediçom do Cancioneiro de Ajuda, nom aparece que se saiba em nengum outro lugar da geografia do ocidente peninsular. Nom hai Taveirós mais que em Galiza e na província de Pontevedra, e na província de Ourense, hoje. Aparece, já mui perto de Portugal, em terras de Lobeira, umha Turns Tabeirolis, e temos o Taveirós que é ainda cabeça dumha parróquia no município da Estrada. Que esta famflia dos Velho a que pertencem estes trovadores tenha como solar num momento determinado da história território portugués, nom significa que nom poidamos considerá-los galegos. A sua ascendéncia era, seguramente, umha ascendéncia que hoje chamaríamos estradense, como nom procederam, é menos provavel, do menos conhecido lugar que levava ese nome de Taveirós, torre de Taveirós, Turris Tabeirolis, nas proximidades do actual Lobeira. E entom, essa distinçon entre Portugal e Galiza é umha distinçon puramente teórica. Os nobres galegos e os nobres portugueses, passavam o Minho como, segundo Castelao, passan o Minho as palavras e os paxaros, sem que significasse para eles umha fronteira, umha separaçom. De jeito que estes homes da família de Taveirós, ainda que já nados en territórios hoje, e tamen entóm, portugueses, estavam estreitamente relacionados com Galiza, tinham terras, tinham bens, tinham obrigas tanto a umha banda como a outra banda do Minho, e concretamente estes irmaos Taveirós, Pai Soares e Pero Velho, estavam vinculados á casa dum magnate tam caracterizadamente galego como o Conde de Trastámara. Em tempos de Afonso IX o Conde de Trastámara, Rodrigo Gómez, era o patrom das casas dos Velhos de Taveirós, e esses dous irmaos, numha cançom, nunha discussom poética que se conserva, falam precisamente dum incidente galante ocorrido num jardim da casa do Conde de Taveirós, neto por certo do Conde de Trastamara, neto por certo daquel Pedro Froilá que foi regente de Galiza em tempos de Gelmírez.
Possivelmente foi este Pai Soares de Taveirós, do que conservamos cantigas de amor e cantigas de amigo, a figura mais antiga da literatura relacionada com esta comarca. Mas como dixem, esta familia deu outros trovadores. Entre eles o próprio irmao de Pai Soares: Pero Velho, e também um poeta posterior que leva o nome de outro poeta contemporáneo: Fernam Velho, que naturalmente o precede com muitos séculos de adianto. A esta mesma família pertence Frei Gonçalo Velho, já em época posterior, que ha ser o descobridor das ilhas dos Açores. De maneira que é umha familia mui vinculada á vida do ocidente peninsular e mui ilustre polo que se refere á cultura literária.
Como nom desejo que nesta comemoraçom de escritores esteja ausente a voz deles mesmos, e todo se reduza a que escuitemos a voz dos que imos falar deles, quero agora, como umha pausa dentro da minha exposiçon, ler um texto deste Pai Soares que é possívelmente, umha das manifestaçons da literatura relacionada coa terra em que eu falo agora, terra a que vós estades adscritos, mais antigas que se conhecem; nom porque nela se fale, por suposto, desta terra; é umha cançom de amor de tipo provençal, das mais antigas dos cancioneiros galego-portugueses, seguramente de princípios do século XII e mostra umha grande perfeiçom que se revela no domínio da métrica e da paralelismo semántico, no paralelismo da significaçom que aqui se emprega. Imos logo lé-la, empregando a fonética actual do galego e nom a fonética antiga, embora o léxico esteja esmaltado com palavras que hoje som em parte arcaicas.
Como morreu quen nunca ben
ouve da ren que mais amou,
e quen viu quanto receou
d'ela, e foi morto por én:
Ay mia senhor, assi moir ’eu!
Como morreu quen foi amar
quen Ihe nunca quis ben fazer,
e de quen lhe fez Deus veer
de que foi morto con pesar:
Ay mia senhor, assi moir’eu!
Com ’ome que ensandeceu,
senhor, con gran pesar que viu,
e non foi ledo nen dormiu
depois, mia senhor, e morreu:
ay mia senhor, assi moir ’eu!
Nace pois a poesia galega do autor relacionada dalgum jeito com esta comarca armada como Minerva de todas armas, porque evidentemente este texto revela um domínio da forma que supom umha longa preparaçom. Este texto atribuível a um autor relacionado seguramente com este país é umha joia dos cancioneiros que me parece que deve figurar em toda antologia, ainda que seja umha antologia oral como esta, relativa á literatura estradense.
Temos depois, por suposto, umha etapa de longos séculos em que a literatura galega cala. A nossa língua deixa de ser umha língua utilizada para a manifestaçom artística, e a língua literária dos galegos entre os séculos XV e XIX é o castelhano. Chegamos a crer que a nossa língua serve para nos comunicar oralmente mas nom é umha língua a propósito para a escrita, e se escrevemos nela é por gala e bizarria, para contrastar precisamente um intento de utilizar como escrita a língua falada, que sempre será excepcional co uso habitual do castelhano como língua protocolária. Mas quando o rexurdimento das nossas letras, como consequéncia do desenvolvimento do Romantismo, que projectaba a sua atençom sobre o próprio de cada país, fai renascer, ainda que em circunstáncias precárias, o nosso idioma como idioma escrito, entom, como se indica no programa deste simpósio, hai umha importante contribuiçon ás letras galegas de escritores desta comarca. E nom é que entre os séculos XV e XIX faltem totalmente os textos galegos escritos, mas, como dixem só por excepçom se escreve em galego buscando a surpresa da utilizaçom dumha língua que normalmente nom se utiliza para estes fíns. Sem embargo, quando xurde o renascimento das letras galegas, ao redor dos anos meios do século pasado, como continuaçom dum interessante movimento erudito, de preocupaçom pola cultura galega, ainda que nom em geral de criaçom literária, representada polo Padre Feijoó, polo Padre Sarmiento especialmente, polo Padre Sobreira, por Cornide, quando xurde este renascimento romántico, romántico tardio, um renascimento tingido de realismo, hai umha figura da comarca que desempenha um papel fundamental, um papel chave nesse rexurdimento, nesse movimento de reivindicaçom e de restauraçom das letras galegas, que é Dom Marcial Valhadares. Marcial Valhadares, que no seu apelido regista já o deterioro da nossa cultura porque Valhadares nom é a forma auténtica, nom é a forma legitima do topónimo. Tem umha projecçom mui importante nos primeiros momentos do rexurdimento das nossas letras. No «Album de la Caridad», onde se recolhe por Dom Antonio de la Iglésia umha antologia de poetas da época, aparece já Dom Marcial Valhadares mais velho de idade que Rosalia. Aparece com poesias que algum dia se reunirám num volume porque se estám descobrindo constantemente novas peças de Dom Marcial, publicadas as vezes em revistas hoje pouco conhecidas. A doutora Aurora Marco, que está presente, especialista em trabalhos sobre a literatura desta família, dispom dum repertório importante que acrescenta diversas peças ás tradicionalmente conhecidas. E Dom Marcial Valhadares, figura de enorme simpatia, depois dumha breve etapa em que actua como funcionário administrativo, vai encerrar-se no seu paço de Vilancosta, e vai consagrar a sua vida de solteirom ao trabalho pola cultura galega, trabalho em solitário, trabalho isolado, porque lhe abonda co paraíso do vale em que se assenta Berres. Dom Marcial Valhadares vai ser um poeta merecedor de que se sublinhe o seu relevo com mais carinho e com mais justiça do que se tem feito até agora. E um poeta que, se nom existisse Rosalia, seria considerado um poeta mui notável, porque algumhas qualidades da sua poesia anunciam a Rosalia dos Cantares. Recordemos aquelas composiçoms de tipo costumista, por exemplo A castanheira em Santiago cheas de graça, em que a língua flui de maneira espontánea, coa riqueza léxica que caracteriza o seu autor, que o é também dum dicionário, primeiro dicionário importante da língua galega, e dumha gramática, publicada postumamente, pero que tem também o seu interesse, se bem naturalmente nom podemos pedir a aquele afeiçoado do século XIX que tenha da evoluçon das línguas e da selecçom do léxico os mesmos conceitos que os filólogos románicos de hoje. Mas Dom Marcial Valhadares ocupa um lugar histórico mui importante dentro da literatura galega porque foi o autor do primeiro romance, é dizer, da primeira novela longa, se queremos empregar a expressom castelhana, que se escreveu na nossa fala. Esta novela, este romance, Maxina ou a filla espúrea que, prescindindo do seu carácter mais ou menos folhetinesco, é umha novela de tipo romántico contemporáneo, é interessante por dous conceitos: em primeiro termo pola enorme riqueza de léxico que maneja Dom Marcial; em segundo termo porque é umha exaltaçom da comarca da Ulha, e está tam ligada a estas terras, nom estritamente ás terras da Estrada, ás terras de Berres, senom a todo o vale da Ulha, a todo o itinerário entre Vilancosta e Santiago, que é um produto entranhavelmente local, ao mesmo tempo que abriu umha nova rota no caminho das letras galegas porque é a primeira novela longa, o primeiro romance propriamente dito, empregando esta palavra no sentido em que se emprega o francés roman, o italiano romanzo, (somente o castelhano reserva o nome de novela para esta clase de narrativa), que se elabora dentro da nossa literatura, na que ocupa pois um posto fundacional. O carinho com que Dom Marcial Valhadares contemplava o seu pais revela-se, por exemplo, nas linhas que vou ler, segunda peça desta breve antologia, e que som introduçom a umha breve descriçom da romaria celebrada no Pico Sagro. Eu tenho ouvido a Otero Pedraio, na Estrada, ao melhor neste mesmo local, nom me lembro, dizer numha dessas construçoms audazes, típicas do nosso grande mestre, que o protagonista de Maxina nom era nenumha das personages masculinas ou femininas que por ela transcorrem, que era umha entidade como petrucial, geológica: o Pico Sagro. E umha fantasia, daquelas ás que nos tinha afeiçoado Dom Ramom, mas contém umha parte de verdade, efectivamente: desenvolvem-se acontecimentos fundamentais desta novela ao pé do Pico Sagro ou no cume do Pico Sagro. Vejamos como com grande carinho e com grande riqueza léxica, Dom Marcial nos introduze nesta paisagem, que podemos contemplar, que temos contemplado na nossa viagem de Santiago á Estrada, coa emoçom com que todo santiagués ou habitante de Santiago contempla o Pico Sagro ao sair para a Estrada, ou ao sair cara Ourense polo Castinheirinho, já que dentro da cidade é realmente difícil ver o Pico Sagro, apesar da sua altura.
"Corría o ano 1866. Era unha mañá de maio. Empezaba a esclarecer, e ladrando os cans nas eiras, daban a xente que pasaba polas congostras. Cantaban xa o millán-garrido, a bubela e o cuco nas carballeiras, o merlo e o reiseñor nos salgueirales, o paspallás entre os centeos, e os xilgaros e carriciños, os chincheiros e sirins desfacíanse nos eidos mirando cada un para o seu amor, que alí os oviños no níxaro empolaba, e adozando todos en concerto vario traballos preludio de matemidá. Era o día vintesete, día de romería no pico Sagro e, subindo a aquela altura de dous mil cento trinta e oito pés sobre o nivel do mar, altura onde segun lendas e tradicións do país habitaron antigos mouros e disque algun habita aínda; onde en novecentos catorce fundou o obispo Dom Sisnando mosteiro de bieitos; onde en mil oitocentos trinta e un o arzobispo compostelano Fr. Rafael Veles mandou poñer, e en primeiro de Novembro daquel ano púxose no curuto mesmo, unha gran cruz de pao para que os pasaxeiros a adorasen, feita astelas por un raio o sábado de Ramos de mil oitocentos trinta e seis; rubindo por aquel monte cuberto de carrouchiñas floridas, queiroas e recendentes tomelos, acudían de moitos lados, por diferentes carreiros, devotos que ían visitar o santo San Sebastián, algúns até con ofrendas, todos a rezarlle, ao oirlle misas na sua solitaria ermida, único que hoxe se ve ali, pousado coma unha pombiña branca ao pé da cresta. Era, en fin, o domingo derradeiro do mes dito, e Otilia con súa nai e Adria saía de Santiago a fin de tomar a costa pola fresca e oír a misa ofrecida".
Esta página, como outras páginas descritivas de análogo feitio, pom de manifesto a riqueza idiomática de Dom Marcial, junto co garimoso espírito de comunhom coa terra em que vivia, que fai ainda de Maxina, novela folhetinesca que responde a cánones já caducados, un texto ainda entranhavelmente agradável para todo leitor galego, e nom digamos para todo leitor das terras da Ulha.
Mas como som consciente de que o tempo que roi os mármores e morde os bronzes, me exige brevidade no desempenho da minha funçom de conferente, nom me detenho mais em falar de senhor de Vilancosta e fago umha simples referéncia aos irmaos deste petrúcio, especialmente a Avelina, que é também umha figura importante, ainda que modesta, dentro da poesia feminina galega. De todos os jeitos, nom quero despedir-me de Dom Marcial sem recordar curiosamente que algumhas passages da sua obra Maxina lembram passages de obras da literatura universal como Audia de Teréncio ou como a Marquesa de O, de Heinrich von Kleist. Hai também nesta novela umha mulher que tem um neno cujo pai ignora. No teatro de Santiago, durante umha festa de entroido, durante um baile de carnaval, a heroina de Dom Marcial, concebe um filho sem saber quem é o pai. Aparece aqui curiosamente a modema doutrina do hipnotismo, que facilitou esta concepçom, que por entom figuras importantes da ciéncia ou da charlatanaria francesa e também espanhola, estavam incorporando, como um dado mais á vida social e á vida cultural do pais. Hai outro prosista destas terras a quem queredes também honrar, neste simpósio, e do qual, como de Dom Marcial, se vos falará em detalhe em posteriores intervençoms, ao qual também compre que me refira, e que me refira com igual carinho, con igual simpatia que ao petrúcio do pago de Vilancosta. Este é um home nado num médio em parte o mesmo e em parte distinto, porque nom pertencia ás famílias senhoriais a que estaba vinculado o senhor de Vilancosta; ademais era um home que atingiu umha cultura que lhe permitiu converter-se no mais importante dos prosistas desta comarca e umha das fíguras que hai que reivindicar na história da narrativa galega. Refiro-me por suposto a Manuel Garcia Barros, que atingiu umha longa velhez e que durante a sua vida nom revelou toda a sua capacidade literária e artística, que estava reservado á posteridade conhecer. Dom Manuel Garcia Barros, que fixo popular o seu pseudónimo de Ken Keirades, passou durante a sua vida, mui trabalhada, que foi como tantos outros patriotas galegos objecto de perseguiçoms que quebrantárom a sua saúde física, mas que nom dobregarom a sua inteireza moral, Dom Manuel Garcia Barros passou durante a sua vida do ponto de vista literário por ser um escritor satírico ou festivo, um escritor de costumes, cheo de graça mas que se situava nun nível popular que limitava já voluntariamente a sua repercussom artística. Este home foi, como digo, especialmente conhecido no campo literário, polos seus relatos breves, polos seus contos, onde pinta o labrego nom ainda com aquela profundidade de lapis e de colorido que vai xurdir da paleta literária dum Castelao e que está já em certo modo anunciada por alguns contos de Labarta Posse. Garcia Barros mantem-se no tipo de relato costumista rural tipicamente decimonónico, mas já nestes contos ainda quando reproduze temas como o relativo a Roque Peneco, que foram tratados por Lamas Carvajal no seu Xan Bercellao, e que em realidade reproduzem um tema literário que se atopa nos contos de As mil e umha noites , e foi também objecto dum relato incluído em Los Cigarrales de Toledo de Tirso de Molina, «Los tres maridos burlados». Dom Manuel Garcia Barros nestes textos nom avança sobre a literatura de tipo decimonónico, representada na prosa narrativa por um Lamas Carvajal, principalmente, ou polos demais escritores da escola ourensana, como por exemplo um Heráclio Pérez Placer ou um Fernández Nóvoa. Houvera ficado como um escritor de linha decimonónica, interessante do ponto de vista de que nos proporciona um material folclórico e umha visom do mundo rural interessante e bem vivida, e nada mais, se no mesmo ano do seu falecimento, já mais que nonagenário, nom fora publicada por umha editorial galega umha obra singular, umha obra que merece ser reimpressa: As aventuras de Alberte Quiñoi, trabalho em que o velho prosista, o velho mestre de escola, o velho loitador agrário, o velho patriota das Irmandades da Fala empregou solitariamente, empregou isoladamente, empregou afervoadamente, o mais esquisito da sua capacidade de escritor, que se revelou esta vez mui superior a todo o que antes produzira. Por suposto, esta é umha obra escrita, segundo parece, nos anos quarenta, em meio da obscuridade em que vivia entom a literatura galega, publicada polo esforço editorial dos irmaos Alvarez Blázquez, um dos quais, o meu querido amigo Emílio pujo um fermosíssimo prólogo á ediçom, esta obra revela-nos um escritor sobre o cal hai que chamar a atençom reiteradamente, porque nom devemos crer de nengum jeito que um grande prosista galego é somente aquel que está á la page, que está perfeitamente ao tanto das modas de Paris, ou de Londres ou de Madrid, ou de Nova Iorque ou de Praga ou de Berlim, ou de Múnic. Pode ser um escritor galego um grande conhecedor da literatura universal, dos derradeiros berridos da moda literária, pero se é grande escritor, sera-o apesar do snobismo que supom tratar de imitar dentro da nossa literatura, as literaturas alheias. Ninguém mais oposto ca mim, que o modesto professor que vos fala, a que nos encerremos e que nos isolemos num recanto, como se nom fóssemos parte do mundo circundante, mas hai que comunicar-se cos demais, mantendo a nossa personalidade, nesse sentido este home, um simples, um humilde mestre, de mentalidade que parecia semelhante á dos labregos que o rodeavam, este home revelou nesta obra umha conceiçom do mundo, umha visom das cousas que constituem o seu entorno dumha sinceridade, dumha virilidade, dumha grandeza humilde, que fam que este livro nom poda ser lido sem emoçom por ninguém que sinta o que significou para nós todo esse desenvolvimento da vida económica e da vida literária do mundo rural durante o século dezanove. Um rapaz que vive a sua infáncia a meados do século passado, nos vai relatar ainda que através dumha terceira persoa, cenas da existéncia própria e da existéncia dos que o rodeam. As aventuras de Alberte Quiñoi, publicadas em 1972, quando já nom era deste mundo o seu autor, é um tesouro, é um repositório de formas de vida já caducadas pero que vivem de algum jeito em nós, porque nós somos os filhos ou os netos daqueles Albertes Quiñois que viviam na época em que os retratou com mao mestra na sua singeleza Dom Manuel Garcia Barros. Som estas de Alberte Quiñoi, ainda que relatadas em terceira persoa, como umhas memórias dum neno labrego, pero um neno labrego que ainda nom é o neno labrego que vamos conhecer mais adiante, que ainda nom se abriu a doutrinas sociais e políticas que podem supor umha aportaçom de pontos de vista nados em outras terras á soluçon dos problemas do nosso campo. E um neno que na adolescéncia, quando remata o texto, nos revela cómo se desenvolve espontaneamente. sem mais contactos nem influéncias que as do ambiente, umha vida que vai desenrolando passeninhamente e que espelha a vida da própria Galiza rural daquele tempo. Hai neste relato páginas extraordinariamente eficazes para pintar essa realidade galega, e, para rematar esta antologia, vou ler um anaco em que se nos conta a chegada a Compostela dum grupo de persoas que partindo de Pousada, partindo das terras de Berres, por primeira vez para os nenos que acompanham aos maiores, visitam a grande cidade do Apóstolo.
Sai da sua casa mui cedo, ainda antes da saída do sol, a pequena tropa. Passa o rio, que é umha corrente que desaparece, como importantíssima, e finalmente alviscam as torres de Compostela. «Pasarom a Ponte Pedriña. Lourenzo foilles amostrando as panaderías a onde ía o panadeiro da parroquia a buscar o pantrigo para vender nas festas e nas feiras, andando a pé coa cesta na cabeza as catro leguas que distaban. Viron mesóns a unha banda e outra, con argolas de ferro nas paredes e sentadoiros de pedra polos frentes. Xunto a unha casetiña de madeira estaban uns homes con chuzos de ferro nas mans, que cacheaban a xente denantes de deixala pasar. Seguiron. Rúas anchas, das que caían outras estreitas coma calexóns. Muita xente a camiñar en todas direccións. Casas ben feitas con balcóns de ferro, uns por riba dos outros, e xente neles mirando a rúa. Postes de ferro, coma tomeados, con faroles grandes na cima. Coches de dous e de catro cabalos, uns que pasaban, outros parados. Tendas de todo canto pode haber, con mostradores ateigados de cousas moi bonitas. Señores de bimba e de chistera paseando moi tesos, zarandeando o bastón. Señoritos moi paquetes, que miraban con certo aquel aos aldeáns. Señoritas de todas as feituras, unhas con pelo posto em estriga, outras de sombreiro con plumas e ramallos, coma os que viran nas mascaradas; algunhas de polisón e o rabo arrastro, coma a «Lola» que cantara o Lucas. Xentes da montaña, seguramente de alá de onde viñan os caseiros. E cregos, moitos cregos, unha cheísima de cregos».
Esta descoberta de Compostela por um rapazinho novo, que continua, e é mágoa, que nom podamos ler íntegra, a passage, é umha página das mais formosas dentro da nossa literatura descritiva desde os começos do renascimento até os nossos tempos. Compre-me rematar, e é mágoa também que nom poda falar doutras figuras literárias nadas nesta terra, ou com ela relacionadas, e que na vida fórom amigos meus, é o caso de Cabada Vázquez, ao que se lhe consagrará umha evocaçom e um recordo, e do qual conservo, ainda, adicada da sua mam, o livro Vagalumes: «A Carvalho Calero, alma acesa de loitador, o autor». Isto dizia aquele home que nom sei se hoje reconheceria em mim o loitador aceso dos tempos da nossa mocidade. Mas nom somente haveria que evocar aqueles escritores galegos nados na comarca da Estrada, senom outros muitos que se relacionárom com estas terras, ou por vir a matrimoniar á Estrada, ou á sua comarca, ou por desenvolver a sua vida como funcionários ou por outras razons familiares nestas terras. Teríamos muito que falar de Losada Dieguez, e o seu labor como agitador agrário na prensa da Estrada. Teríamos que falar de Bouza Brei, grande poeta e grande erudito que aqui exerceu a sua profissom de juiz; do próprio Castelao, tam entranhavelmente ligado a esta vila, e que nos persegue desde o fundo deste salom, e se queremos pensar em aqueles outros nados já fora do Concelho da Estrada pero nas proximidades do mesmo, como Alonso Rios ou Ramón Valenzuela, seria muito também o que eu poderia dicer-vos, porque todos estes, absolutamente todos, incluso Losada que era o que morreu mais pronto, fórom amigos meus. Precisamente um dos meus primeiros trabalhos como investigador da cultura galega, Como via Aristóteles o Padre Feijóo, escrito para um tomo de artigos do Seminário de Estudos Galegos, redactei-no por indicaçom, por invitaçom de Losada Dieguez; e de Bouza Brei, de Alonso Rios e de Valenzuela, o mais próximo em idade a mim, que foi o meu entranhável amigo e companheiro nos anos escolares em Santiago, poderia contar muitas cousas. Mas creo que devo rematar agradecendo umha vez mais á Sociedade que me invitou, e ao público que assistiu a esta conferéncia, a sua colaboraçom nesta empresa cultural que como professor que fum de literatura galega, sempre tem para mim um grande interesse. Graças pois a todos e que, como é de esperar, dado o pulo com que se manifesta hoje o interesse pola cultura estradense, e a cultura galega, e que como é de esperar, xurdan novos Pai Soares de Taveirós, novos Marcial Valhadares, novos Garcia Barros, e que tenhades na mente a arela de fazer justiza sobre todo a este último, do qual hai tempo que nom se editam as obras. Acaba de saír umha nova ediçon de Maxina, mas hai tempo que está esgotada a grande obra, o grande relato de Garcia Barros, As Aventuras de Alberte Quiñoi. Que boa empresa para a Sociedade Estradense, para o município, para a Sociedade Cultural, promover a publicaçom, a reimpressom dumha obra que garanto como humilde notário da literatura enquanto fum professor desta matéria.
* Redacción:
Esta conferencia foi impartida polo Profesor Don Ricardo Carvalho Calero, o 14 de setembro de 1987 na Asociación Cultural “A Estada”, no marco do I Simposio de Literatura Galega Estradense. Sendo un documento de grande valor cultural para A Estrada, Editámola respectando a vontade normativa do autor, falecido, agardando ser fiel transcrición das súas palabras. Esta conferencia foi publicada na Contrarretranca nº 14, Novembro 94.