Pedro Peón Torres
Forcarei, Cerdedo e Cotobade também desaparecem. Nos últimos 20 anos —todos eles com maioria absoluta do PP em Forcarei e Cerdedo— desde o ponto de vista económico passarom duas cousas: um crescimento espectacular até 2007; um afundimento nom menos espectacular a partir de 2008. Mas em termos de povoaçom existiu umha tendência comum aos três concelhos: todos perderom habitantes, dava igual estar numha borbulha que numha crise. Em 1996, os três concelhos contavam com 12.700 habitantes; 19 anos depois o número apenas chega aos 9.800. Quase um quarto da povoaçom marchou, mas nom em todos os concelhos por igual: Forcarei e Cerdedo perderom um terço mas Cotobade “apenas” um 15%. O despovoamento nom é novo; como também nom o é a falta de perspectivas sociais e laborais nos territórios do interior. Levamos mais de 20 anos olhando sem fazer nada e é agora que as ideias brilhantes assomam: a uniom!
A incompetência, a ineptitude, a desídia e a arrogância dos sucessivos alcaldes destes concelhos também muito a ver com este processo de esvaecimento colectivo. A única iniciativa —nefasta porque está demonstrado que nom é efectiva para incrementar a povoaçom— foi a de dar dinheiro por nascimentos. Muitos empadroarom-se (sem viver em Cerdedo), tiverom um filho, colherom o dinheiro e voltarom empadroar-se onde realmente viviam. Nom houvo nengumha iniciativa séria que trata-se de atalhar os problemas principais das terras do interior: despovoamento das aldeias, abandono do espaço e avelhentamento da povoaçom. É verdade que hoje nom há futuro nas Terras de Montes; mas também é certo que esse futuro começou a escurecer-se há mais de 20 anos e ninguém, entre quem governou e ainda governa, fixo nada.
Mas nom se pode culpar por completo a quem senta nas poltronas dos concelhos; há que olhar também a quem as ocupam em Sam Caetano. Estes governantes que temos, tam bons gestores dos seus patrimónios privados a costa dos bens e serviços públicos, apenas puxerom em marcha duas iniciativas contra o despovoamento: a primeira foi outorgar pírricos e pontuais subsídios aos nascimentos, curiosamente sempre antes de períodos eleitorais, imitando as melhores épocas do paternalismo franquista; a segunda, montar uma campanha publicitária em que se pode ler a palavra “futuro” em jogos com imagens de barcos e coches. É esse o futuro que tenhem planeado para este país? Cheques e fotos trucadas?
Quais forom e som as políticas estruturais implantadas pola Xunta para lutar contra os grandes males deste país como som o despovoamento e o avelhentamento? Por que nunca se promoveu um pacto entre todas as forças políticas para destinar durante um mínimo de 20 anos umha quantidade considerável de recursos a políticas contra o abandono e o avelhentamento?
Se calhar os nossos governantes nom conhecem as causas destes problemas. E até é compreensível quando os recursos destinados à investigaçom e à innovaçom levam mais de um lustro caindo. Centos, milheiros de galegos e galegas historiadoras, geólogas, sociólogas, antropólogas... com sobrada capacidade para investigarem e achegarem análises e possíveis soluçons a estes males apenas tenhem duas alternativas: emigrar ou malviver com um trabalho precário que nada tem a ver com aquilo para o que se capacitarom. Lástima que muitos políticos defendam empresas obsoletas que promovem precariedade e destruçom de recursos. Qualquer euro destinado á investigaçom é um excelente investimento, tanto para o presente —a gente fica no país, consome aqui, investe aqui e tem filhos aqui— como para o futuro —encontram-se novas ferramentas para lutar contra os problemas económicos e sociais que nos afectam—. Problemas como a falta de nascimentos, a emigraçom, o trabalho precário e de pouco valor tecnológico, a falta de infraestruturas e de estruturas de serviços construídos e prestados com um sentido realmente eficaz. Uns problemas que se resumem num só: a falta de futuro.
E por que nom pensar no futuro além de umha patética campanha de publicidade? O futuro significa apostar em inovar e nom em seguir subsidiando tecnologias cujo esplendor há lustros que ficou atrás. Quando uns estám a pensar em veículos eléctricos, nos seguimos botando dinheiro nos de combustom; quando outros desenvolvem dispositivos digitais, nós seguimos apostando na pasta de papel; quando a maioria estaria entusiasmada com que as pessoas poidam ser autosuficientes energeticamente, nós sancionamos e aplicamos mais impostos... Chegamos tarde, mais umha vez, a outra revoluçom.
Ninguém pensou que nom dispor de umha rede de “trens cercanos” que conecte as vilas do interior pode ser umha das causas dos problemas do rural? Alguém é tam inocente ao pensar que o AVE nom vai ter repercussons negativas nas vilas e aldeias?
Apostamos em infraestruturas que nom se acomodam nem social nem economicamente a esta Terra como o AVE. Hipotecamo-nos em milheiros de milhons em infraestruturas que apenas serám acessíveis a umha mínima parte da povoaçom. Voltamos apostar no oráculo do turismo, uma atividade baseada na precariedade dos empregos e na saturaçom e destruçom do meio.
Alguém pensou que sem achegar, dotar ou produzir valor aos produtos primários podemos fornecer oportunidades para que a gente se assente nas áreas rurais?
Disponhemos de matérias, mas nom somos capazes de tirar o valor que realmente tenhem: madeira, agricultura, ganadaria, energia renovável. Outros países desenvolvem novos instrumentos como a bioeconomia e refletem sobre o futuro a 20, 30 ou 50 anos vista.
Apostemos na investigaçom em todas as áreas do conhecimento, também nas ciências sociais, e na redistribuiçom dos recursos económicos cara a infraestruturas e serviços que prestem serviço à povoaçom e nom só a empresas que já estám na sua fase decadente.
A fusom proposta polos alcaldes de Cerdedo e Cotobade é mais umha prova da incapacidade da elite política para dar resposta às necessidades da povoaçom das terras do interior. É, ademais, outra mostra da precária democracia real que existe no âmbito local: falta de informaçom, de participaçom na toma de decissons, de rendiçon de contas e a transparência dos órganos de governo. A ínfima legitimidade das instituiçons tem que apandar com representantes arrogantes que as consideram suas e que as utilizam para tirar benefícios particulares. Muitos dos nossos concelhos converterom-se em cemitérios de elefantes políticos onde campam o despotismo, clientelismo e a corrupçom... As unions e fusons de concelhos do interior nom som as gadanhas que os farám desaparecer, mas o enterramento dos princípios democráticos essenciais que os haviam de rexer e a incompetência e ineptitude de quem os dirige.