Anjo T Cortiço,
Como foi o nascimento de Verbo Xido e qual é o contexto social e político em que começa a trabalhar?
Dionísio Pereira: Antes da fundaçom de Verbo Xido nós já trabalhávamos a nível social mas um pouco dentro do organigrama do Bloco, ainda que daquela maneira, porque sempre o figemos de umha maneira mui independente. A mim particularmente apetecia-me trabalhar nas questons socioambientais que estavam de atualidade naquele momento na zona e víamos que nom havia nada…
Entom convocou-se umha assembleia em Forcarei, porque o primeiro que queríamos fazer era coesionar a bisbarra de Terra de Montes e superar os localismos extremos que se davam, e se dam, na zona. A ideia era fazer atividades em conjunto e consolidar umha certa identidade de Terra de Montes, que a tem. A segunda questom era sermos beligerantes em problemas ambientais que já começaram e que já tratáramos como concelheiros, como é o caso das minicentrais ou o de parques eólicos como o do Seixo, que eram anteriores mas cujas consequências já se viam: destruiçom da paisagem e benefícios mínimos para a vizinhança. Também começava o tema do Leres, porque historicamente todo o desenvolvimento da conca do Leres foi bloqueado pola concessom de umha grande presa que afetava a zona; estavam ameaçados elementos emblemáticos como a ponte de Pedre… E em terceiro lugar queríamos dinamizar socialmente e criar consciência cívica com todo tipo de propostas, desde concertos até recitais de poesia, apresentaçons de livros… em fim, umha atividade cultural. Ademais de todo isto, depois, enlaçamos com a família de González Ruibal para levar adiante o CETMO (Centro Etnográfico de Terra de Montes).
Aquela primeira assembleia contou com a asssitência de muita gente, diversa, ainda que depois ficamos no projeto um núcleo de gente de Cerdedo e outro de Soutelo, que fomos os que tiramos para adiante num primeiro momento. Posteriormente entrárom pessoas como Carlos Solla, que aportou questons como o estudo do monte do Seixo e a criaçom do roteiro Sarmiento.
Que ámbitos de trabalho abrangiu a associaçom e quais fôrom as iniciativas que mais lembrades?
DP: Como che acabo de dizer, no tema ambiental nós fomos uns ecologistas obrigados. Nom foi um achegamento teórico mas prático, respostando às múltiplas agressons que apareciam já desde a nossa chegada aqui, antes da criaçom de Verbo Xido, como foi o caso do intento de criar um vertedeiro de lixo que aliviasse a situaçom do que daquela existia em Ponte Vedra, que estava a rebordar… No caso dos eólicos, lembro-me de que ademais do caso do Seixo também apresentamos alegaçons nos primeiros que quigérom fazer pola zona de Quireza, no Montilhom em concreto, que nom fôrom adiante.
Entom, a questom ambiental foi fundamental, e neste eido podo dizer que a primeira manifestaçom que se fijo, ainda que fosse em forma de roteiro, foi ao abeiro da Coordenadora do Leres, que se criou com Verbo Xido como motor. Esta Coordenadora ia desde Forcarei até Ponte Vedra, com coletivos de Cotobade como Canón de Pau, comunidades de montes diversas, etc. Aí fôrom os primeiros contatos com o concelho de Ponte Vedra, que já estava governado polo BNG, e que fôrom negativos pola prepotência que mostrárom nas primeiras juntanças, e mesmo porque ao concelho de Ponte Vedra algumha das minicentrais projetadas nom lhe vinha mal, quer dizer, criara-se a Coordenadora porque aquele primeiro projeto de grande presa, dos anos 70, que já tivera luitas (com gente de aqui como Fernando Salgado ou ligada ao PSG como Fabián Estévez), fora reconvertido em seis minicentrais tam daninhas como a grande, e Ponte Vedra queria regular estes projetos de forma que a cidade sempre tivesse água nos veraos. Essas relaçons pouco satisfatórias também repercutírom depois em temas como o do AVE por Cerdedo. Esta Coordenadora trabalhou durante vários anos, integrada por gente diversa, e fijo um trabalho importante que durou vários anos, penso eu. Aquela primeira manifestaçom-roteiro entre o Serrápio e Pedre (Cerdedo) contou com a participaçom de 200 ou 300 pessoas, e fora um êxito notável.
Depois também se começou a trabalhar no tema da memória histórica. Este era outro ámbito que já tratáramos a nível municipal, tentando que se retirassem placas franquistas das igrejas e do rueiro. Figemos umha base de dados da gente represaliada e também tentamos falar com gente maior para que nos transmitissem cousas.
Logo está o tema do CETMO. Tentávamos que fora um centro que irradiara serviços culturais para toda a zona; também com a perspetiva de criarmos estrutura, porque num contexto social como este, onde o medo ainda está aí, onde as represálias som mui finas mas todos as conhecemos, se nom crias algo de estrutura, algo que permaneça e que seja ponto de referência, é difícil trabalhar. E o CETMO poderia ter sido umha cousa assim, mas nom o foi. Acabou sendo um fracasso basicamente porque o contexto da comarca era difícil e porque quem estávamos pulando por isso éramos mui distintos, e ademais o próprio Verbo Xido nom tinha mui claro o seu modelo. Depois de anos, com muito esforço e recursos metidos aí, a verdade é que foi um fracasso.
Lola Varela: Também estava a nossa lavor editorial, os boletins, os folhetos que preparávamos para os atos, os cadernos sobre o tema da memória histórica, um ámbito em que também começamos a homenagem na Ponte do Barco.
Esse trabalho de recuperaçom da memória popular levou a umha denúncia e julgamento contra Dionísio, podedes-nos lembrar como foi todo esse processo?
DP: Antes cumpre dizer que o objetivo do PP sempre é isolar. Antes falávamos de atividades reivindicativas exitosas, com participaçom de gente de todo estilo, mesmo o alcalde de Cerdedo naquela altura participara. Quando jogas no seu terreno, é difícil que te isolem, mas aí está o difícil, aguentar… Também quando fora o Nunca Mais organizamos um encontro que era umha espécie de uniom da terra e do mar aqui, na casa do povo de Pedre, que o PP nom cotrolava. A atividade estivo cheia de gente e lembro como algumha gente do PP estava preocupada, porque isso é o que os alarma, que de repente tu podas normalizar a tua relaçom com o pessoal…
Voltando à pergunta, naquela altura, quando eu já nom formava parte do grupo municipal do BNG, os concelheiros do Bloco apresentaram umha moçom para solicitar a retirada da rua dedicada a Manuel Gutiérrez em Cerdedo, umha rua pola que havia velhos que nom passavam, porque sabiam quem fora… Essa moçom, com a que eu nom tivera nada que ver, aprova-se por unanimidade, e a família começa a ameaçar o PP para que convoque um novo pleno que bote abaixo a decissom. O PP convocou aginha um pleno extraordinário e revogou o acordo. A partir de aí (sobre o outono de 2006) a cousa fica “vista para sentença” e em janeiro de 2007 comunicam-me que há umha querela contra mim por ofensa à honra. Eu optei por umha dupla estratégia; por um lado contratar umha boa advogada para a minha defesa legal, e por outro tentar politizar ao máximo a questom.
O resultado dessa politizaçom foi o estabelecimento de um debate sobre que é o que deve prevalecer: a honra ou a liberdade de investigar e o direito a saber. Aí ajudou também o bipartido da Xunta, e concretamente Luís Bará. Organizou-se um congresso em Ogrove onde participárom investigadoras e investigadores de todo o Estado espanhol e que tivo muita repercussom. O melhor de todo é que as duas sentenças pugérom bem às claras que o que prevalece é a liberdade de investigar e o direito a saber da cidadania; ainda que tenho que dizer que foi porque tivem sorte… a justiça espanhola é discrecional, depende de quem che toque. Neste sentido foi umha experiência positiva, mas tenho que dizer que o feito de ter que ir a juizo já é umha condena, porque ninguém te vai ressarcir do mal que o passas, nem do dinheiro que tés que gastar para te defenderes. Ademais, socialmente, aqui, notas que a atitude de algumha gente muda porque entendem que “vai haver lio” se se relacionam contigo. Porque com isto pretendem meter medo, nom só às pessoas que investigam, também às fontes, ainda que no meu caso nom foi assim.
Foi duro o combate com o caciquismo?
LV: Nós esse caciquismo notávamo-lo em que quando íamos pedir um pouco de colaboraçom ou ajuda, ou a convidar gente para que vinhesse aos atos encontravas-te com a negativa, ou com que che diziam algo a meias… e depois enteiravas-te de que era porque estavam por detrás ameaçados. Verbo Xido supujo algo mais que umha associaçom ecologista e cultural, era a oposiçom. E essa era a imagem que tínhamos.
DP: Verbo Xido e também a associaçom de mulheres Espadela, que às vezes fôrom bastante paralelas.
LV: Sim, procurávamos apoiar-nos uns aos outros e também que as mulheres adquiriram protagonismo, presença e consciência, assim que Espadela também foi perigosa para o Concelho, e encontrávamos atrancos.
DP: Lembro-me de quando nos contara em certa ocasiom umha vizinha como o alcalde, que a vira falando connosco, lhe dixera: “e tu, que fas falando com esses?” Ou seja, que nem falar podiam…
LV: Eu também lembro outros casos de gente que em ocasions vinha a algum ato de Verbo Xido, que no-lo dizia claramente; que estavam tocados polo Concelho, que lhes dixeram que nom deviam andar connosco. Ou também um caso mais triste, como o de Rogelio Arca, com quem Dionísio figera um livro.
DP: A ele nom o atacaram diretamente, porque tinha umhas conviçons contra as que já nom tinham nada que fazer, mas o que faziam era pressioná-lo dizendo-lhe que um familiar seu nom ia encontrar trabalho no Concelho se ele seguia a colaborar connosco, ainda que seguiu a fazê-lo… Mas, diretamente, por parte do Concelho todo eram boas palavras, sempre cediam o uso dos locais, etc. Porque ao final o que querem é isolar-te e que tu mesmo desapareças sem eles tocarem nada.
Que liçons tiraríades de um trabalho como o de Verbo Xido num contexto da Galiza rural como o de Cerdedo e Terra de Montes?
DP: Eu penso que quando che fam a cama desta maneira, tés duas opçons: umha é fazer umha associaçom e organizar atividades em que a gente que participe seja de fora, contatos e amigos doutras partes do país, e de aqui pouco; a outra opçom é jogar no mesmo espaço que o PP e resistir aí, mas fazendo as cousas que cumpre fazer. Isto é muito mais difícil, requer muita paciência e muita presença. Ao final é umha discussom também sobre o tipo de associaçom, ou montada mais a nível pessoal para fazer as cousas quando nos peta ou feita com algo de estrutura, algo que permaneça. E este debate deu-se em Verbo Xido e foi o que fijo que fosse perdendo força cada vez mais, sempre no contexto de que é o PP quem domina e che fai a cama por detrás.
LV: Sobre os motivos que contribuírom à decadência de Verbo Xido, ademais do próprio desgaste e cansaço polo passo do tempo, eu apontaria vários: em primeiro lugar os problemas que fomos encontrando com a família com a que assinamos um acordo para gerir o CETMO, o que dificultou o trabalho, mesmo à hora de conseguir apoio institucional para o projeto. Outra questom foi o debate sobre o tipo de associaçom do que falávamos antes, sobre a quem queres dirigir-te… e que acabou provocando conflitos e divisons. E para rematar estivo o intento de patrimonializar a associaçom para buscar o próprio benefício, na última etapa de Verbo Xido.
DP: Também haveria que falar de onde estamos e como mudou a sociedade. Quando se funda Verbo Xido aqui ainda havia algumha gente. No 2000 Cerdedo tinha 1700-1800 habitantes, agora nom chega nem a 1000.
LV: Daquela contávamos bastante com algumha gente maior que era de esquerdas, gente que estava caladinha mas que connosco animou-se. Essa gente foi morrendo. E aqui a gente nova que há, infelizmente, a maioria está captada polo PP ou depende economicamente do Concelho. A gente que podíamos tirar de Verbo Xido éramos os que nom dependíamos do Concelho para viver, se nom seria mais difícil.
DP: Dalgumha maneira o que hoje existe aqui fijo a sua primeira rodagem com Verbo Xido e Espadela. Verbo Xido também foi o primeiro que fijo umha manifestaçom em Cerdedo, contra a guerra do Iraque. Contribuimos a ativar a sociedade.
Se me perguntas que é o que se pode fazer, diria que tés que estar mirando o que a gente precisa em cada momento, os temas que som importantes, e nom deixar tampouco o de fora, mas o fundamental é aqui.
LV: Sim, que o foco das atividades xurda de aqui. Quando partes do que realmente preocupa à gente, podes conseguir que participe, e houvo ocasions em que o conseguimos com Verbo Xido. Se trabalhas e estás inserido na comunidade podes fazê-lo.
Para acabarmos, a associaçom foi um bom meio para introduzir luitas nacionais ou que respondessem a questons nom geradas na comarca?
DP: O que está claro é que é algo necessário, nom só estar nas questons locais de atualidade, senom também dar um passo mais, porque o que passa fora também nos atinge aqui. Igual nom vas conseguir que participe muita gente, mas a gente decata-se e gera-se algumha corrente de simpatia. Nom vas mudar o país desde aqui, mas aqui tem que haver gente que apoie as mudanças necessárias, um grupo de gente que seja ponta de lança. Mas para isso tu tés que estar considerado como alguém dentro do corpo social. Nós nom estamos fora, estamos dentro, e fazemos as cousas que achamos que som necessárias.
* Entrevista en "Galiza livre"